.

Os olhares falam as palavras que a boca não pronuncia, talvez esse seja afinal o nosso sentido mais apurado.

domingo, 9 de novembro de 2014

365, words



Gostar de escrever é um privilégio. 
Porque se criam histórias na história das pessoas. 
 Escrever é prezar as palavras como se lhes ouvíssemos o coração. Que nada mais são que a exteriorização do que passa cá dentro. De uma forma mais lúcida. Mais limpa. Consciente.
Gosto sobejamente de escrever.
Porque vejo na escrita o encaixe de umas pessoas nas outras. Que, não sendo o puzzle perfeito -, por cada um entender uma verdade à semelhança da sua - tem a capacidade de, a jeito de convite, fazer alguém entrar numa pele diferente, sem se desnudar da sua.

sábado, 25 de outubro de 2014

Fall behind

 Suspeito impreterivelmente dos que não têm sobre algo uma fome em atraso. Daquelas para anteontem, sabes?
De quem não perde o fôlego de tanto desejar isto ou aquilo porque não se deixa consumir até à última gota.
Não gosto de pessoas que não morrem na exaustão de tanto querer. Das que têm uma paixão à dose.
É que a única forma de nos pertencermos por inteiro é a escolher pelo que morrer. Como quem dita a própria sentença.
Hoje, mas também ontem, e em tantos outros dias que tu e eu sabemos contar, não sei o que é sair de casa sem correr. Saem-me sempre 5 minutos mais cedo.
Mas somos felizes assim. A correr em contra-relógio. A ver quem verga.
Sim, não morro de amores por uma só coisa. Mas é por isto que a felicidade existe em vários tamanhos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

(Parênteses)

Há pessoas que são o nosso parênteses. 
Um segredo trancado.
Cabem-nos no silêncio. Em pormenor de história. 
Roubamo-las ao mundo sem desculpas ou explicações; como se se tropeçasse na sorte grande.
É dessas pessoas que gosto. 
As que nos acrescentam um conto, em vez de um ponto.
As que, por nos darem tanto, damos tão pouco.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

FOTO-GRAFIA

"Over the years I have learned that what is important in a dress is the woman who is wearing it."
Yves Saint Laurent

sábado, 13 de setembro de 2014

Transbordar

O silêncio é prudente. 
Cala para não se arrepender. Fecha-se em copas.
É para os fortes andar de garganta cheia; deitar uma tonelada de alma na almofada.
Que à partida o mais certo é que não funcione.
Poupa-se a erros de um ala que se faz tarde, porque lhe é cedo, até que esteja na hora.
 Mas - há sempre um mas - "e se?".
Sim. E se?
É melhor que falar te valha a pena.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Afloat

"Some people bring out the worst in you, others bring out the best, and then there are those remarkably rare, addictive ones who just bring out the most. Of everything.
They make you feel so alive that you'd follow them straight into the hell, just to keep getting your fix."
   
Karen Marie Moning

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Look like

Acredito que os anos só amadureceram a ideia de que não sei tudo o que queria, de quem queria - mas sei coisas que ninguém sabe.
E mesmo que isso não chegue, vai chegando.  
Também gosto de acreditar que o que temos de bom é genético.
Mas hoje, tenho mais que isso. Tenho-lhe um dia de pouca conversa.

domingo, 13 de julho de 2014

Centímetros


Mas mais que a vontade da pele a reinvindicar o toque, como quem chama e instiga o outro, quero a palavra.
Quero-a porque dá-la a alguém é jurar-lhe que o tempo não engole a promessa.
É a única forma de dar mais todos os dias, quando se crê já se ter oferecido tudo. Quase como quem explora evasivamente uma mina para lhe extrair o melhor em bruto.
E sem subterfúgios, admitir que exijam o mesmo. Nem mais nem menos. Apenas na medida em que o apoio em bicos de pés seja a solução, porque de todas, é a única que dá o que começa a fugir de alcance.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Must-read

Mitch: Weren’t you afraid to grow old?

Morrie: Mitch, I embrace aging.

Mitch: Embrace it?

Morrie: It’s very simple. As you grow, you learn more. If you stayed at twenty-two, you’d always be as ignorant as you were at twenty-two. Aging is not just decay, you know. It’s more than the negative that you’re going to die, it’s also the positive that you live a better life because of it.   

Mitch: Yes. But if aging were so valuable, why do people always say, "Oh if I were young again." You never hear people say, "I wish I were sixty-five."

Morrie: You know what that reflects? Unsatisfied lives. Unfulfilled lives. Lives that haven’t found meaning. Because if you’ve found meaning in your life, you don’t want to go back. You want to go forward. You want to see more, do more. You can’t wait until sixty-five.

in Tuesdays with Morrie

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Um

Demorei-me em escrevê-lo, foi um atraso premeditado. De quem no primeiro dia já espera o último só para terminar de matar a sede.
Quis vê-lo crescer, cobrar-lhe em intensidade cada ano em que não germinou.
Que nos amores é isso que subsiste. Quer-se sempre mais do que é dado e do que se acha que é permitido. 
Esperei porque acho que os amores devem amadurecer antes de sair à rua.
 Precisam de um período de entrosamento, um segredo a dois, como aquele de "só quem está no convento é que sabe o que lá vai dentro".
Por isso, passou um. O melhor. 
E apesar de já te conhecer cada recanto, tenho agora 5 anos para continuar a saber quem és, Medicina.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Perdidos não achados

Roubou o telemóvel à Mãe e ligou-me. Não falou, estranhei. Ficou a soluçar repetidamente até que o choro diminuísse.
Dei-lhe tempo, e, de cima das pantufas que sei que nunca larga – as da Minnie –  perguntou-me directa, sem rodeios, se não tinha medo de perder coisas.
 Fiquei inerte com a inocência de uma pergunta tão cortante mas que só escondia as lágrimas pelo peluche perdido.
Respirei mais devagar para ganhar tempo (que nunca seria suficiente) e procurei dar-lhe a resposta que não quis encontrar no colo da avó.
 É sempre tão complicado dar-lhe uma verdade que não borre com o tempo.
Mas respondi-lhe. 
Disse-lhe que não, que não tinha medo de perder quase nada e que isso não era bom - viver como se nunca tivesse nada a perder. Que temos. Sempre.
Alertei-a para isso com um português que lhe chegasse.
 Calou-se, num silêncio que não esgota perguntas.
Aceitou a resposta, contudo, não soube como lhe explicar a dualidade que existe entre não ter medo mas não gostar.
E porque me lembro que naquela idade “outro não é o mesmo”, evitei negociar-lhe a sobra de lágrimas com um peluche novo; disse-lhe antes que a levava a um sítio que ainda não tinha ido. 
De volta aos 6 anos - e ainda bem - impôs paragem obrigatória nos gelados e despediu-se com a rapidez de quem diz que já perdeu os desenhos animados no canal Panda.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Para ontem

As saudades entregam-se com antecedência porque os detalhes acordam a memória.
O tempo acelera, mas os dias não se distraem da sombra que o sol não volta a ver.
Paralisa-se.
A vontade de abraçar torna-se urgente porque nunca deixa de se querer para ontem.
Quer-se tudo para ontem.
Os anos só alargam o que fica por dizer e, se as paredes narrassem histórias, teriam tanto as que foram como as que nunca tiveram oportunidade de o ser. 
O pior de tudo é que a saudade tem uma fome que não passa. Não sacia, nunca.
Julga-se que o que se tem nunca vai ser tanto quanto o que se achava que se poderia ter tido - mas é.
Por isso, segue-se com a quietude de que nada amarga o que se deixou doce.
E dorme-se bem de noite porque a vida não questiona se aquele afecto poderia ter sido maior.
  É o único amor que não demora, chega com 9 meses de véspera.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Touch


 Duvido sempre de quem diz que não há nada mais importante que os olhos. 
Fico a achar que o mundo se esqueceu de acordar essas pessoas.
As mãos são a continuação dos olhos porque envolvem aquilo a que a vontade não consegue chegar. Convidam-nos a falar.
O toque, esse, é a via mais rápida de chegada aos outros e não existe o que os olhos queiram que as mãos não trilhem.
No fim de contas, é esta a razão de se crescer com os "olhos na ponta dos dedos".

domingo, 23 de março de 2014

Até amanhã

Dizer "até amanhã" a alguém é impôr um contrato por mais um dia sem pedir licença.
Ninguém é obrigado a fazer parte das 24h seguintes.
É por isso que cada vez digo menos "até amanhã", não só pela liberdade que imprime a quem decide ficar, mas porque economiza palavras entre pessoas que não têm que se despedir.

sábado, 8 de março de 2014

Mulher

É-se mais Mulher quando numa escala de conformidade, a primeira pessoa do singular se aproxima mais de si que dos outros. Quando, a voltagem máxima, se se apaixona com facilidade por quem se é - não porque "tem de ser", mas porque "pode ser".
É-se mais Mulher nas horas em que se está aflitivamente bem nos próprios saltos, porque se se gosta com urgência de todos os centímetros de pele.
Sou apaixonada por poucas Mulheres, que nunca se pode ser fiel a muita coisa. Digo, leal a nenhuma, senão a algumas - a elas.
 A minha avó diz que há mais coisas pelas quais se é mais Mulher. Ainda estou a aprender, e juro, com as melhores.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

What love is

Os amores estão cheios de condições.
Certificam-se que o que veio tem mais do que se quer, do que se foge. E se trouxer verdade, fica. Vai ficando. 
O amor fica sempre mais um pouco.
Somos todos de amores diferentes, porque o amor é outra coisa aqui e ali.
Acredito no amor que lida com o pior do outro e que mesmo assim acolhe. Que expande o bom e melhora o mau.
Não o acredito noutra forma.
Não acredito naquele que paga à verdade com a mentira, que não explode porque está demasiado preocupado em conter-se. 
Acho que o amor se faz quando consome, quando balança a paz que aborreceria se houvesse todos os dias.
Gosto de um amor perturbador, mas que também acalme e sossegue. Que deixe respirar. Que esteja disponível para ser leal. Que se queira intenso.
Não acredito no que não cobra, que finge dar sem se importar receber, que não exige muito.
Mas acredito no amor porque um dia já me cruzei com ele. 
E não precisa de complementos. É o que é, e chega.

You don't?

"Everybody needs a reason why they run
Everybody wants to know what they're running from."

Says

“ Failure is only postponed success as long as courage coaches ambition. 
The habit of persistence is the habit of victory. ”
Herbert Kaufman

Says

"It’s a terrible thing, I think, in life to wait until you’re ready. I have this feeling now that actually no one is ever ready to do anything. There is almost no such thing as ready. There is only now. And you may as well do it now. Generally speaking, now is as good a time as any." 
Hugh Laurie

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Hide

Tenho pessoas de escrita difícil. Fazem-me o texto complicado.
Evito escrevê-las porque as palavras, que nelas se centram por inteiro, tornam-se ingratas por nunca ressalvarem de cada uma o suficiente, por nunca poderem ser a representação fiel daquilo que genuinamente são.
Nunca lhes sei se, do início, lhes poderia traçar o fim.
Fujo de escrevê-las. Por considerar que são em essência mais ricas do que aquilo em que as poderei compactar, com um espírito mais sagaz do que lhes poderei dar.
Gosto de sabê-las e de adivinhá-las, porque me condensam sempre que me acrescentam.
Na verdade, não gosto de escrevê-las porque gosto de reservá-las. E é por me permitirem esse egoísmo, de quem tem e não quer partilhar, que gosto tanto delas.
Mas, acima de tudo, por deixarem alguns dos meus defeitos render.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Pertence-te

As pessoas conhecem-se sem se conhecer, porque se mostram querer saber-se.  
Escutam-se por uma voz que não ouvem - é aí que se reparam sem ver.
Conhecer é saber contar os outros numa história igual mas diferente da sua.
Acho que é assim que as pessoas se conseguem falar, pelo que conhecem de si, misturado numa maneira que é dos outros.
E não se mudando, mudam-se.
Nunca se pertence mais aos outros que a si mesmo. Ou é assim que deveria ser; não confundir identidades de impressões digitais diferentes.
Pertencer-se é tão seguro, como quem se aguenta em dois pés. Mas se não o fosse igualmente acrescentar-se, ninguém se equilibraria com o pé que restou, do que lhe foi tirado. 
Por muito mais, mas por isto, uma das melhores coisas não é possuírem-se - como quem não arranja espaço no cheio que cada um já é - mas pertencer-se. 
Quem se pertence, dá-se sem se confundir. E quem não se confunde, não é nada mais, do que aquilo que é, acrescentado ao que, sempre, espontaneamente, um dia o farão ser. 

Kind of contradiction

"I want to write a novel about silence…

  the things people don’t say."
Virginia Woolf