.

Os olhares falam as palavras que a boca não pronuncia, talvez esse seja afinal o nosso sentido mais apurado.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

BOMBEIROS



Quando tinha menos meio metro do que tenho agora, já me questionava se algum dia teria coragem para dar a vida por alguém. Nunca tive que fazer essa escolha.
Mas hoje, infeliz e forçosamente, recordo todas essas passagens de tempo por culpa do deflagrar de chamas que tem assombrado o Verão e destruído famílias de uma forma impiedosa.
Na inocência da criança que era, achava que se algum dia me o perguntassem, trautearia um sim ou não, como quem responde sem o pesar daquilo que chamam "uma pergunta de vida ou morte".
Que leviana é a infância.
Os adultos, perdoem-me, os Bombeiros, como que frutos maduros de época – aquela em que são o melhor que podem ser (e que incrivelmente o são todo o ano) – não se dão a escolhas de criança. 
Articulam um sim, daqueles que se tem na ponta da língua, os imediatos, sem impasse, aqueles em que não se considera uma segunda opção.
Tenho um Bombeiro mais irmão que primo, e sei o sufoco que é ouvir o número de toques da sirene que dão como certo aquele desgraçado fogo ou outro drama qualquer. O significado do som é sempre o mesmo: o recrutar de corajosos.
 E nesses momentos, quando se lhes pede para ficarem, eles vão; quando se lhes aconselha o "cuidado contigo", eles vão a correr cuidar dos outros.
E fico verdadeiramente feliz, quando lhe vejo nos olhos o orgulho de quem leva nos passos a vontade e não o dever, de quem vai e tem como única certeza, a incerteza da volta.
Creio que seja isso o significado de ser Bombeiro.
Há muitos anos que conheço como ninguém os traços das mãos de quem gostava de salvar vidas com eles, mas não consigo encontrar em nenhum desses incontáveis dias, nada mais nobre e humano do que os que dão os traços das suas, pela vida das mãos dos outros.
Bem hajam.