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Os olhares falam as palavras que a boca não pronuncia, talvez esse seja afinal o nosso sentido mais apurado.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

(re)começar.

Acham que vai ser sempre só contar até três?

É que eu temo que não.

Hora de partida.

O deserto fica longe daqui.
Afinal, é mesmo o vento que nos leva até aos mistérios.

Rúbrica, d'Um outro Lado.










Wish.




Que
seja
em

COIMBRA.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Citações.


Trago à flor da pele a alma toda.

Calar.



Sou mestre na arte de falar em silêncio.
Toda a minha vida falei calando-me
e vivi em mim mesmo tragédias inteiras sem pronunciar uma palavra.

Fiódor Dostoiévski

Ajuda a crescer.

Amar-te nunca foi difícil. Resistir-te, isso sim, foi uma tarefa complicada. Amar-te não. Nem quando vinhas com demasiada bagagem que remexíamos com cuidado. Tinhas a mala aberta, no chão do quarto, e éramos duas crianças encantadas com as maravilhas que de lá saiam. Eu sabia mais de ti e tu lias mais de mim, no meu ar de espanto e olhos lacrimejantes. Havia tesouros que de teus passaram a nossos e houve mundos que se criaram, ali, naquele quarto transbordante de cores e cheiro de infância. Muitas vezes quis que me contasses a tua história e demasiadas vezes tive que adivinhá-la no teu semblante fechado. A proximidade das almofadas, em jeito de submissão, denunciavam o quanto nos queríamos e tu ali, tão próximo, a dois dedos de mim, era mais do que alguma vez pedira. Gabavas-me os lábios que palminhavas com os teus e sentia na pele como os nossos cheiros se misturavam, num perfume delicado, impossível de reter. Foste o meu melhor amor e um dia, quando as crianças me pedirem histórias felizes, é de ti que falarei. De ti e do teu olhar rasgado, de peixes verde-mar, de como contigo era sempre Verão, mesmo quando a chuva quebrava contra o vidro da janela fechada. E elas compreenderão que a saudade é um doce caminhar, quando se escolher o Amor como caminho.

Sorrir com dois olhos.

Rir é o melhor remédio, dizem.
Se depender dos últimos dias, estou curada.

domingo, 5 de setembro de 2010

pelo Mundo fora.

Existe sempre alguém que te enrola, tal e qual como um cigarro.
Coloca-te na boca e consome lentamente, num estado pertencente à monotonia nua e crua.
Sentes o corpo a queimar e algum tempo depois desapareces, foste apenas mais uma pessoa.
Ups.
Mas estava a falar de cigarros, não era?
Com as duas mãos, enrola-se o cigarro -toda uma essência que alivia o espírito, acalma o sistema nervoso para alguns e serve como ritual para outros, apertada num pedaço de papel, sem intenção de (te) oferecer a pessoas alheias.
No entanto, ninguém se lembra do corpo a queimar.
Os órgãos do corpo a desfazerem-se, restando um coração por amar no fundo do cinzeiro.
E toda a essência actua principalmente nos pulmões, não existe uma passagem secreta para o coração da pessoa que coloca o cigarro na boca. Oh, esqueci-me.
Fumar compulsiva e obsessivamente nunca fez bem nem nunca fará.
Não percebo porque é que existem tantos seres humanos a fumar desta forma, pelo mundo fora.

O oculto desvelado.

"Eu sei que não acerto com o português, que não sou entroncado o suficiente para te proteger de tudo quanto queria, e que repito demasiado a mesma coisa quando estou entusiasmado. Que às vezes me desligo um bocado e deixo de perceber que o teu coração tem muita coisa lá dentro e a maior parte do tempo (do tempo, do espaço) não está arrumado. Eu sei que não me devia importar quando me tiras fotografias aos pés. Mais que tudo, eu sei que te sentes frustrada quando te tento ensinar a andar de skate e tu não consegues. Mas foi essa tua dissincronização toda que me fez gostar de ti assim, tão devagarinho. Não foi o teu excesso de vocabulário, a cor do teu cabelo, as tuas notas na escola e o facto de termos os dois o mesmo nível de pontualidade (não nulo, quase nulo). Não foi tão pouco a tua paixão pela arte ou a nossa adrupta parecença e diferença em certas coisas. Mas a tua maneira de estar tresloucada e a maneira como gostas de saber rir-te sozinha."

Poderia ser um dos contos das MIL E UMA NOITES.

sweet home.


E tenho de ir lá para fora para perceber o que isso é, tenho de olhar para as pessoas para perceber como funciona um coração. O meu, a maior parte das vezes. E depois reparo que tenho a capacidade de chamar casa a mil e quinhentos lugares, e chamo casa a pessoas.
Sabe bem.

one.


“Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão:
Que haja antes um mar ondulante entre as praias de vossas almas.
Enchei
a taça um do outro, mas não bebais na mesma taça.
Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.

Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vós estar sozinho,

Assim como as cordas da lira são separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.

Dai vossos corações, mas não confieis à guarda um do outro.
Pois somente a mão da vida pode conter nossos corações.
E vivei juntos, mas não vos aconchegueis em demasia;
Pois as colunas do templo erguem-se separadamente,

E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro.”


Kahlil Gibran