Roubou
o telemóvel à Mãe e ligou-me. Não falou, estranhei. Ficou a soluçar repetidamente
até que o choro diminuísse.
Dei-lhe
tempo, e, de cima das pantufas que sei que nunca larga – as da Minnie – perguntou-me directa,
sem rodeios, se não tinha medo de perder coisas.
Fiquei
inerte com a inocência de uma pergunta tão cortante mas que só escondia as lágrimas
pelo peluche perdido.
Respirei mais
devagar para ganhar tempo (que nunca seria suficiente) e procurei dar-lhe a
resposta que não quis encontrar no colo da avó.
É
sempre tão complicado dar-lhe uma verdade que não borre com o tempo.
Mas
respondi-lhe.
Disse-lhe
que não, que não tinha medo de perder quase nada e que isso não era bom - viver
como se nunca tivesse nada a perder. Que temos. Sempre.
Alertei-a
para isso com um português que lhe chegasse.
Calou-se, num silêncio que não esgota perguntas.
Aceitou
a resposta, contudo, não soube como lhe explicar a dualidade que existe entre não ter medo mas não gostar.
E porque me lembro que naquela idade “outro não é o mesmo”, evitei
negociar-lhe a sobra de lágrimas com um peluche novo; disse-lhe antes que a levava
a um sítio que ainda não tinha ido.
De volta aos 6 anos - e ainda bem - impôs paragem obrigatória nos gelados e despediu-se com a rapidez de
quem diz que já perdeu os desenhos animados no canal Panda.