Queria colo enquanto esperava que o semáforo ficasse verde e, enquanto o sol me aquecia o rosto, lembrei-me dos tantos anos em que me apanhaste e da saudade daquele sentimento de segurança que era ter-te atrás, onde quer que fosse.
Naquela fracção de segundos, revivi os teus chegar a casa, a forma como me olhavas e como eu inclinava a cabeça sempre que sentia as tuas mãos - que ainda hoje, conheço como ninguém.
Senti-me no sofá da nossa casa, era lá que muitas vezes em silêncio analisavas o meu mexer no cabelo, a mão que suportava um queixo pensativo, a concentração absorvente e o olhar esfíngico - tão meu como teu.O som dos outros carros ficou longe, deu lugar a tudo aquilo que te segredei e que em circunstância alguma, contaste sem ser aos teus botões.
Fazias permanentemente a coisa certa; e foi assim que cresci, no meio de um carácter que julgo não haver igual.
Herdei-te quase tudo. Os lenços de bolso, os teus relógios - uma paixão comum -, a carteira que nunca mandei fora, os papéis rasurados.
O sol continuava a fazer-se sentir e quando dei por mim, percebi porque é que não gosto de comprar sapatos. Eras tu que os compravas, com ou sem mim, eras tu quem sabia se me estavam apertados ou não - para mim um número acima ou abaixo parecia sempre bom.
Continuo parada neste semáforo e sem saber porquê, tudo me faz recordar os gestos, as palavras, os momentos, a voz. Talvez seja o destino numa tentativa de me lembrar a forma como estás presente em tudo o que sou - como se em algum dia da minha vida o fosse esquecer.
O semáforo ficou verde. Tenho que ir, mas tu vens comigo.
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