Lembro a minha primeira grande despedida, há quase 4 anos. No aeroporto, entre família e amigos, aguentei com um nó na garganta as lágrimas alheias e percebi que a felicidade está directamente ligada ao amor destas pessoas que a vida fez o favor de colocar ao meu lado, pessoas que me amam e ao mesmo tempo compreendem que tenho de ir.
 Desde então já vivi muitos reencontros e muitas despedidas, já chorei  em aeroportos ao deixar quem não queria ver partir, já fui só abraços e  alegria, e já vivi a solidão de chegar a sítios onde ninguém me espera.  Enquanto eu transito, estas pessoas aguardam na repetição dos dias que a  minha chegada os torne um bocadinho mais cheios.
A caminho, penso no conforto estrutural e inabalável do quotidiano,  que a minha ausência não faz colapsar. Um sítio-amor a que posso voltar  sempre, e onde sinto que nunca fui embora. Estou constantemente em  dívida, de arma em riste contra a ausência, e ainda assim falho, porque  não consigo melhor.
Chego pelo mesmo caminho de sempre, de que conheço todas as curvas e  cruzamentos. Adivinho o sorriso e o abraço apertado, abraço por todos os  abraços que ficaram por dar hoje, esta semana, este mês. Antecipo o  cheiro a jantar, o ruído da televisão na sala, os desenhos da toalha na  mesa. Sei de cor como será a minha chegada, de tantas vezes que a vivi.  Sei-a tão bem que me parece sempre a mesma, uma eterna chegada a uns  braços abertos.
A saudade, que só se tem em ausência, é ainda assim um saco que nunca se esvazia, mesmo quando estamos juntos todos os dias, porque são dias contados. Nunca poderei devolver a quem amo os dias que lhes retirei. Posso só tentar que os que partilhamos sejam grandes. Posso só ser mais amor, tentar ser menos falha, e pedir com a humildade da minha pequenez que a vida me permita dar-lhes muito mais."
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