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Os olhares falam as palavras que a boca não pronuncia, talvez esse seja afinal o nosso sentido mais apurado.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Olhar-te

Das últimas vezes que retornei à casa onde cresci, levei uma vontade maior de ouvir do que falar - a minha avó tem esse poder, a hipnose de uma boa falante.
Entre o abrir e o fecho da porta - por onde tantas vezes entrei, sem querer sair - os minutos petrificam e a pujança do poder de palavra, assemelha-se a algo que não se alimenta apenas dos anos, como o vinho do Porto. Há pessoas que nasceram para serem ouvidas, que instalam silêncio só de estarem presentes.
Antigamente, achava assustador existir alguém que soubesse tanto de mim quanto eu. Hoje, e talvez fruto de uma ideia amadurecida pelo tempo, penso que isso é uma herança em forma de mapa, que deixei com alguém para o caso de me perder - alguém que diz que a neta trabalha a boca ajustada aos ouvidos. E por isso, hoje não fui a neta, fui os ouvidos.

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