Ontem estávamos por aqui, cada uma em seu sofá, no habitual zapping  madrugada dentro à espera que o sono chegasse. Entre 70 canais  diferentes, parámos na MTV numa música nova dos Black Eyed Peas (can't  remember the name) e tive uma súbita vontade de dançar. Uma súbita  vontade de passar uma noite inteira perdida na música, deixando o corpo  ir e embriagar-se numa surdez que agora tem tudo de saudável. Fui dormir  a pensar nisto. Nas vezes que fiz da surdez, da dança, dos copos, da  diversão, uma anestesia. Tornei-me numb por vontade, abracei a  apatia como uma velha amiga, sem ponderar o quanto me poderia corroer a  alma. E foi o que fez. Comeu-me por dentro enquanto eu insistia em  encher os buracos que ela criava com mais copos, mais noites, mais  barulho, mais pessoas, mais tentações. A verdade é que a dimensão dos  buracos negros que me abarcavam o dentro eram impossíveis de preencher, mas eu insistia. Pisava os pedaços de espelho  partido que me pavimentavam o chão, sangrava e  fingia que não sentia. E era mentira. Sentia. Nas noites escuras em que o  silêncio me inundava sentia e bem. Não tinha vontade de recomeçar e  deixava que a ausência de querer me esbofeteasse uma e outra vez..
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Rodopios.
Ontem estávamos por aqui, cada uma em seu sofá, no habitual zapping  madrugada dentro à espera que o sono chegasse. Entre 70 canais  diferentes, parámos na MTV numa música nova dos Black Eyed Peas (can't  remember the name) e tive uma súbita vontade de dançar. Uma súbita  vontade de passar uma noite inteira perdida na música, deixando o corpo  ir e embriagar-se numa surdez que agora tem tudo de saudável. Fui dormir  a pensar nisto. Nas vezes que fiz da surdez, da dança, dos copos, da  diversão, uma anestesia. Tornei-me numb por vontade, abracei a  apatia como uma velha amiga, sem ponderar o quanto me poderia corroer a  alma. E foi o que fez. Comeu-me por dentro enquanto eu insistia em  encher os buracos que ela criava com mais copos, mais noites, mais  barulho, mais pessoas, mais tentações. A verdade é que a dimensão dos  buracos negros que me abarcavam o dentro eram impossíveis de preencher, mas eu insistia. Pisava os pedaços de espelho  partido que me pavimentavam o chão, sangrava e  fingia que não sentia. E era mentira. Sentia. Nas noites escuras em que o  silêncio me inundava sentia e bem. Não tinha vontade de recomeçar e  deixava que a ausência de querer me esbofeteasse uma e outra vez.
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