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Os olhares falam as palavras que a boca não pronuncia, talvez esse seja afinal o nosso sentido mais apurado.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Rodopios.

Ontem estávamos por aqui, cada uma em seu sofá, no habitual zapping madrugada dentro à espera que o sono chegasse. Entre 70 canais diferentes, parámos na MTV numa música nova dos Black Eyed Peas (can't remember the name) e tive uma súbita vontade de dançar. Uma súbita vontade de passar uma noite inteira perdida na música, deixando o corpo ir e embriagar-se numa surdez que agora tem tudo de saudável. Fui dormir a pensar nisto. Nas vezes que fiz da surdez, da dança, dos copos, da diversão, uma anestesia. Tornei-me numb por vontade, abracei a apatia como uma velha amiga, sem ponderar o quanto me poderia corroer a alma. E foi o que fez. Comeu-me por dentro enquanto eu insistia em encher os buracos que ela criava com mais copos, mais noites, mais barulho, mais pessoas, mais tentações. A verdade é que a dimensão dos buracos negros que me abarcavam o dentro eram impossíveis de preencher, mas eu insistia. Pisava os pedaços de espelho partido que me pavimentavam o chão, sangrava e fingia que não sentia. E era mentira. Sentia. Nas noites escuras em que o silêncio me inundava sentia e bem. Não tinha vontade de recomeçar e deixava que a ausência de querer me esbofeteasse uma e outra vez.

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