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Os olhares falam as palavras que a boca não pronuncia, talvez esse seja afinal o nosso sentido mais apurado.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Go for it

"E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la (...). Nem sequer terás a certeza de (...) ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido."
Haruki Murakami

2 comentários:

  1. Sim, depois da tempestade não serás a mesma pessoa.
    Não ser a mesma pessoa é mudar.
    Mudar é melhor.
    Logo, não ser a mesma pessoa é melhor.

    É por isso que eu provoco tempestades de areia.
    Para arrumar a mala, de vez!
    A mala.
    Amá-la.
    Amar(-te).
    Amar(-te) é o oásis no deserto da minha alma.
    Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
    Pequena é a vida mas sim! vale a pena haver vida!
    Porquê?
    Porque o deserto assim o exige.
    A vida é o sentido do deserto.

    José Pina

    GRANDES SÃO OS DESERTOS, E TUDO É DESERTO.

    Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
    Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
    Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
    Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes
    Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
    Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.

    Grandes são os desertos, minha alma!
    Grandes são os desertos.

    Não tirei bilhete para a vida,
    Errei a porta do sentimento,
    Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
    Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
    Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
    Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
    Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)
    Senão saber isto:
    Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
    Grande é a vida, e não vale a pena haver vida,

    Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
    Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)
    Acendo o cigarro para adiar a viagem,
    Para adiar todas as viagens.
    Para adiar o universo inteiro.

    Volta amanhã, realidade!
    Basta por hoje, gentes!
    Adia-te, presente absoluto!
    Mais vale não ser que ser assim.

    Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,
    E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.

    Mas tenho que arrumar mala,
    Tenho por força que arrumar a mala,
    A mala.

    Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
    Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
    Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
    A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.

    Tenho que arrumar a mala de ser.
    Tenho que existir a arrumar malas.
    A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
    Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
    Sei só que tenho que arrumar a mala,
    E que os desertos são grandes e tudo é deserto,
    E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci.

    Ergo-me de repente todos os Césares.
    Vou definitivamente arrumar a mala.
    Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;
    Hei de vê-la levar de aqui,
    Hei de existir independentemente dela.

    Grandes são os desertos e tudo é deserto,
    Salvo erro, naturalmente.
    Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado!

    Mais vale arrumar a mala.
    Fim.

    Álvaro de Campos, in "Poemas"

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  2. Boa noite. Só agora consegui passar aqui no seu blogue para ver se havia novidades suas. Sábados de trabalho são complicados...

    Sim, é um bom poema. Profundo.

    O meu facebook? But you know what they say: don't judge a book by it's cover... Mas tudo bem, aqui está: http://www.facebook.com/iamjustjose

    Como vê o meu facebook está abandonado. O deserto invadiu-o.
    E eu ando aqui, errante, por amor à mudança e a tentar evoluir.
    Felizmente neste seu blogue encontrei algum conforto e, se não se importar, celebrarei amanhã o domingo colocando um poema num dos seus "posts". Só tenho de escolher em qual. Quer dar alguma sugestão?

    Então e desse lado? Qual o rosto desse lado? Rostos são sempre máscaras do Ser, mais ou menos fiéis, por isso: qual a máscara desse lado?
    Quer escolher uma para me mostrar, uma que a represente? Um facebook, uma imagem? Um poema? Um texto?

    Até já, Mulher.

    José Pina

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