

Chega uma altura na vida em que te podes dar ao luxo de escolher quem queres e quem não queres. Podes decidir excluir quem faz barulho e preservar quem te conhece o coração e o cuida como seu. Deixas de lado os que nada te dizem (e isso não significa que não valham a pena para outros mundos) e focas-te nos que falam línguas diferentes da tua e, pela infinita sabedoria, te motivam a crescer. Não interessa quantos dedos das mãos incluis na contagem. Pouco importa. É a altura em que tens necessidade de separar o trigo do joio - e é aí que a tua integridade é testada e a tua maturidade posta à prova.
Julgo que a gula sempre foi o teu maior pecado. Olhavas para mim com mais olhos que barriga, como quem ladra mas não morde. Apenas te enganaste. Achaste-me areia suficiente para a tua camioneta, quando mal sabias tu, que eu era logo duas ou três toneladas de uma só vez. Foste demasiado ambicioso. Cheguei a acreditar que talvez conseguisses superar as minhas expectativas, que irias gostar tal como sou, com toda a bagagem que tenho escondida. Mas não. Furaste um pneu logo na primeira curva, e não puxaste espírito para concertar o problema. Não lutaste. Foste-te apressado embora, como eu também acreditei que o fizesses - mas talvez não tão cedo.
Ela não te vai dizer que sentiu a tua falta. Não vai chegar e abraçar-te à frente de todos os teus amigos, ela vai esperar que, no meio dessas conversas em grupo, tu apenas passes o braço pelo ombro dela. Na hora da despedida, dá-lhe um beijo na testa, sê o último a largar o abraço. Enquanto ninguém estiver a ver, pega-lhe na mão. Olha bem dentro dos olhos dela, mas não a intimides. Provavelmente, ela vai dizer que nunca conheceu ninguém tão chato quanto tu, e depois disso, sorrirá. Se ela fizer isso, Parabéns.
Se eu percebesse a tua língua e entendesse a tua filosofia de vida, faria de ti um bom livro - dos ilustrados, onde tentaria ler-te como uma imagem e ter-te-ia, chapado comigo, numa figura simples.
Quando se olha assim, tudo fica a meio.
Isto, é aquilo que nunca mais se volta a ter. Perde-se sem retorno - e (in)felizmente não se pode comprar para se substituir a antiga.